quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Uma reflexão

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

As escolas e a Santa Casa
Na semana passada, a sociedade paraense ficou chocada ao ver que a Santa Casa de Misericórdia, a maior maternidade pública do estado, decidiu fechar as portas para novas grávidas alegando superlotação.
O resultado trágico todos conhecem, por isso não julgo necessário entrar em detalhes; fixo somente no argumento para a recusa de atendimento: a superlotação.
Sou professor da rede pública de ensino - SEDUC e SEMEC (Belém) - desde o ano de 1998 e, nestes tantos anos, a tônica sempre foi o trabalho em turmas superlotadas. Lembro que em um dos anos, para registrar as atividades e avaliações de cada turma, era necessário ter dois diários de classe, pois cada diário só comportava informação de 50 alunos. Nossas turmas tinham 55 e algumas até 60 alunos.
Mas a diretora não determinou o fechamento da escola e nem deu ordem para proibir a entrada dos alunos; cada professor teve que encontrar uma forma de trabalhar e atender os alunos; as atividades passaram a ser feitas em equipe e algumas avaliações em dupla. Dessa maneira, fomos exercitando a criatividade todos os dias, até o fim do ano letivo.
Se me perguntarem: faltou qualidade de ensino? Sim, esta foi ferida de morte! Os professores estavam satisfeito? Não; para muitos o prazer em exercer a profissão foi extinto, sufocado em extensas jornadas de trabalho, falta de estrutura, etc. E as perguntas poderiam ser várias, mas um fato é irrefutável: a escola não fechou as portas, nenhum aluno foi impedido de estudar pela superlotação. E se péssimas condições de trabalho e baixos salários fossem justificativas para suspensão do atendimento, aí então, todas as escolas fatalmente fechariam suas portas.
Não, caro leitor, este não é um texto conformista ou reacionário, ou ainda que negue a realidade, apenas quero evidenciar que vários setores do serviço público enfrentam dificuldades para exercer suas atividades profissionais. Não são apenas as maternidades ou postos de saúde!
Se o argumento da superlotação for aceito para justificar falta de atendimento, ficaremos assim:
A polícia não prenderá mais ninguém: as delegacias e as casas penais estão lotadas;
Juízes e promotores com muitos processos, não receberão novas demandas;
Os professores não aceitarão mais ministrar suas aulas: as turmas estão com mais de 35 alunos;
O motorista de ônibus deixará de parar nos pontos, depois que não houver mais assentos livres para os passageiros: ônibus lotado nunca mais!
Conclusão:
Não será negando o atendimento à parcela mais pobre da sociedade que resolveremos nossas questões, que veremos nossas reivindicações atendidas.
Lutar é preciso, mas não podemos errar o alvo, o adversário não é a mãe que bate à porta da maternidade.
Marcelo Carvalho
do blog: http://midiasnaeducacaopara.blogspot.com/

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